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quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Amo tracinho te

Amo tracinho te
Quando pela primeira vez escrevi amote
fui repreendida
pela gramática Não quis saber Tinha-te comigo
assim numa palavra só
Quando pela primeira vez soletrei
a-mo-te tive medo e com pressa e gula
te comi inteiro te reuni em mim
Quando pela primeira vez
nos começámos a separar respeitei a ortografia e sem
dar por isso separei-te de mim
amo tracinho te
Quando
pela primeira vez nos reunimos soletrei melancolicamente
a-ma-me como que esbagulha uma romã
Quando
Pela última vez me disseste amo tracinho te tudo
estava certo e solitário
eu separada de ti por um
pântano de ninguém
tu à distância sem mim
sem barco e sem vontade.

Esbracejei não me quis conformar acenei-te gritei-
te de longe Amasme?
numa palavra só de braços estendidos a lutar contra os
ventos separadores de ortografia e do alto mar
Respondeste gritaste
Claro que te amo
te
amo
te
amo
escondiam os ventos e o eco
em duas palavras
separadas
Então entre mim e ti o pântano cresceu
depois secou depois a crosta terrestre desfez-se
refez-se
e houve novos mares e continentes e tudo
ficou provisoriamente adulto e definitivo reconciliado
com a geografia a e gramática
eu
tu
solidamentesolidariamente sós.


Gosto deste poema...

1 Comments:

  • At 6:51 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    Estes blogs "cor-de-rosa" trocam-me os olhos, mas até gosto do que leio!...

     

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